*Por Antônio Oliveira

O barco Yasa Jupiter, da trading Cargil, atingido por um projétil  assim que deixou Odessa, na Ucrânia, é um dos fatos que deixam em evidência que as embarcações que partem da Ucrânia e da Rússia, transportando produtos destes dois países para o resto da Europa e de outros continentes, correm risco e, com isto, o setor de frete marítimo em mares próximos a Europa, vão jogar este custo em seus preços nos próximos meses ou anos – ou evitar a navegação. Não apenas por isto, mas também porque os armadores serão obrigados a comprar produtos de origem de grãos de outros mercados mais distantes, como América Latina, Austrália e América do Norte.

Conforme as agências internacionais de notícias, a Ucrânia já fechou todos os seus portos ao transporte e a empresa de transporte marítimo Maersk suspendeu seus negócios na Ucrânia e fechou seu escritório em Odessa.

Mas,  certamente, não apenas os fretes vão aumentar de preço. Rússia e Ucrânia são grandes produtores de grãos,  celeiros da Europa. Já nesta quinta-feira, os preços do trigo subiram 13% após o ataque da Rússia a Ucrânia. Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e a Ucrânia é o terceiro maior. Os dois países se destacam também na produção de milho e cevada, produtos que, na sua maioria, são exportados por graneleiros das cidades portuárias do Mar Negro e do Estreito de Bósforo, próximo a Instambul. 40% das exportações russas cruzam o Mar Negro.

Reflexos na produção de pescados

Sabe-se que no Continente Europeu o milho e, principalmente, o trigo são fundamentais para a ração de peixes. Os dois cereais constituem um quarto da alimentação de peixes de empresas como a norueguesa Mowi, uma das maiores produtoras de salmão do mundo.

Javier Blass, especialista em commodities da Bloomberg, informa que os produtos de grãos são a maior ruptura física no mercado de commodities após o início da guerra.

Há que se considerar que o mercado a prazo de produtos à base de cereais vem sofrendo altas nos preços e esta situação só tende a piorar  em função da demanda por produtos com a neutralização

O barco Yasa Jupiter, da trading Cargil, é atingido por um projétil (Foto: Redes sociais)

dos efeitos da Covid-19. Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, os preços do trigo, da cevada, do milho e dos seus substitutos dispararam.

Especialistas analisam ainda, como efeitos desta guerra, o fato de que o dólar americano, principal moeda do mercado de ingredientes para rações, se fortaleceu muito desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia.

O que isto quer dizer? Que os produtores de ração para peixes precisam desembolsar muito mais para manter a qualidade da ração para peixes.

E o que pode acontecer no mercado de pescados – da pesca e aquicultura -, no Brasil? Lideranças dos dois setores, até na manhã deste sábado, 26, ainda não se manifestaram. Mas arrisco a dizer que os dois setores podem se beneficiar contribuindo para preencher, com seus produtos,  parte da lacuna a ser aberta pela Rússia em toda a Europa.

*Antônio Oliveira é diretor-fundador da Cerrado Comunicação, Editora e Eventos; criador dos eventos  PISCISHOW  e AVISULEITE e editor deste site.