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O uso de prebióticos e probióticos na aquicultura - Por Laís Mantovani

O uso de prebióticos e probióticos na aquicultura - Por Laís Mantovani

Data de Publicação: 9 de fevereiro de 2021 11:48:00 Nos últimos anos, o uso de antibióticos na aquicultura foi a ferramenta escolhida para o controle de doenças e melhor desempenho zootécnico

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*Por Laís Mantovani

No Brasil, a aquicultura está em expansão significativa. Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o país terá um aumento de 104% na produção de pescados até 2025. A otimização do desempenho de espécies de interesse zootécnico mantidas em sistema intensivo está entre os maiores interesses da piscicultura, visto que o sucesso depende de genética, manejo e nutrição adequados a cada espécie. A utilização de aditivos que auxiliem na saúde do metabolismo e promovam um desenvolvimento satisfatório, influenciando no crescimento, produção e reprodução do animal, se torna uma importante ferramenta no cultivo. Diante do cenário atual de ascensão da piscicultura, torna-se necessária a realização de pesquisas que permitam a administração de dietas cada vez mais completas e economicamente viáveis (Cyrino et al., 2010; Barros et al., 2009; Felix et al., 2009; Lara Flores et al., 2003).

"Produtos contendo associação de minerais e prebióticos em sua composição se apresentam como boa alternativa para suplementação" (Foto: Heitor Marcon/UEM - ASC))

A criação de pescados para fins econômicos demanda recursos hídricos para a sua execução, onde os animais aquáticos permanecerão durante todo o período de cultivo. Deste modo, a proliferação de doenças ou qualquer imprecisão no equilíbrio da produção podem acarretar a efeitos adversos no ambiente e, consequentemente, importantes perdas econômicas para o setor. Nos últimos anos, o uso de antibióticos na aquicultura foi a ferramenta escolhida para o controle de doenças e melhor desempenho zootécnico. Porém, o aumento do uso desse tipo de fármaco tem auxiliado na criação de patógenos resistentes a alguns antibióticos (Vieira e Pereira, 2016). Além disso, residuais permanecem na proteína integrada à carne do peixe, tendo a possibilidade de surtir efeito no consumidor final, bem como, desequilibra a biota benéfica do meio aquático (Azevedo et al, 2016).

Diante dessas implicações indesejáveis, despontou-se a necessidade de lançar mão da suplementação dietética dos animais abrangendo alimentos probióticos, prebióticos ou mesmo simbióticos, isto é, alimentos que tem capacidade de estimular  e fortalecer o sistema imunológico dos animais através do crescimento e mantença dos microrganismos benéficos ao organismo e supressão e inibição do crescimento dos patogênicos. (Pandiyanet al, 2013).

A criação de pescados para fins econômicos demanda recursos hídricos para a sua execução (Heitor Marcon/UEM-ASC)

Produtos contendo associação de minerais e prebióticos em sua composição se apresentam como boa alternativa para suplementação, pois microminerais são elementos essenciais na constituição de ossos e tecidos dos seres vivos, além de atuarem na ativação de enzimas, participarem de vários processos bioquímicos, constituindo hormônios e enzimas (NRC, 2011; Oliveira et al., 2010). Os peixes são capazes de absorver minerais diretamente da água através de seu sistema branquial e tegumentar (Gatlin e Li, 2008), contudo, em sistema de cultivo intensivo, a única forma de se ofertar qualquer suplementação seria via nutrição, deste modo, suprindo as necessidades desses nutrientes. Os prebióticos são compostos não digeríveis por enzimas, ácidos e sais produzidos pelo metabolismo, mas sim, especificamente fermentados por microrganismos do trato gastrointestinal. Esses compostos podem estar presentes na dieta ou mesmo serem administrados em forma suplementar (Gibson e Roberfroid, 1995). Probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades ajustadas a cada espécie, expressam benefício à saúde dos hospedeiros, pelo fato de melhorar o equilíbrio da microbiota no hospedeiro ou a comunidade microbiana do ambiente, promovendo assim o aumento do valor ou aproveitamento nutricional, da resposta do organismo sobre a injúria, ou mesmo pelo aumento da qualidade do ambiente aquático (Verschuereet al, 2000). Os simbióticos são a mistura de prebióticos e probióticos que fornece o benefício de ambos, principalmente em razão dos efeitos sinergísticos (Gibson e Roberfroid, 1995).

Nos últimos anos, alguns trabalhos vêm mostrando melhor desempenho em peixes suplementados com prebióticos, probióticos e simbióticos, como melhor aproveitamento do alimento, modulação da microflora intestinal, aumento da resposta imune e antagonismo a patógenos, consequentemente, combatendo a proliferação de doenças, aumentando a taxa de sobrevivência (Cechim, 2013; Ringo et al., 2010). Algumas bactérias empregadas como probióticos demonstraram efeitos antivirais. Cepas de Pseudomonassp., Vibrio sp., Aeromonas sp. isoladas de incubadoras de salmonídeos, manifestaram atividade antiviral contra o vírus da necrose hematopoiética infecciosa com mais de 50% de redução de placa (Pandiyan et al, 2013).

Diante dessas implicações indesejáveis, despontou-se a necessidade de lançar mão da suplementação dietética dos animais abrangendo alimentos probióticos, prebióticos ou mesmo simbióticos (Foto: Livia Dourado)

O mananoligossacarídeo (MOS) é um prebiótico derivado da parede celular da levedura Sacharomycescerevisiae tendo como principal função a absorção de agentes patógenos, promovendo uma melhora na conversão alimentar, integridade das vilosidades intestinais e bem estar geral do animal, acarretando em melhores ganhos econômicos (Li e Gatlin III, 2004). Esse composto vem sendo utilizado na composição de suplementos e premix usados na alimentação animal, apresentando bons resultados em peixes de interesse comercial (Andrade e Azevedo, 2018; Scharwzet al., 2016). Vários probióticos demonstram também ser promotores de crescimento. Por exemplo, o probiótico E. faecium aumentou o peso final e o ganho de peso diário da tilápia do Nilo (WANG et al, 2008). O probiótico B. pumilus é um produto comercial (Organic Green ®) que quando administrados à tilápia do Nilo, melhoraram sua taxa de crescimento (ALY et al, 2008). Probiótico Bacillusamyloliquefaciens melhorou o crescimento, conversão alimentar e parâmetros imunológicos da tilápia do Nilo (Eissa e Abou-Elgheit, 2014).

Dentre as respostas do uso de probióticos e prebioticos na aquicultura, destacam-se: a melhoria da saúde e tecidos internos e externos dos animais de cultivo, consolidação da flora bacteriana benéfica, maior eficiência de conversão alimentar e absorção nutricional, melhoria no desempenho zootécnico. Assim, o uso de probióticos e prebioticos no cultivo aquícola é recomendável, podendo, inclusive, resguardar significativamente o uso de antibióticos em longo prazo.

 

 

*Laís Santana Celestino Mantovani  é graduada em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) em 2015. Mestre em Zootecnia pelo Programa de Pós Graduação em Zootecnia (UEM). Doutorado em Produção Animal - em andamento. Foi presidente da Associação Paranaense dos Estudantes de Zootecnia (APEZ) de outubro de 2011 a novembro de 2012. Desde 2015,  faz parte do grupo de pesquisas PEIXEGEN/UEM atuando na área de biologia molecular, melhoramento genético e reprodução de peixes (zebrafish, carpas koi e tilápia do Nilo).

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Azevedo, R. V.; Fosse Filho, J. C.; Pereira, S. L.; Cardoso, L. D.; Vidal Júnior, M. V.; Andrade, D. R. 2016. Suplementação com prebiótico, probiótico e simbiótico para juvenis de tambaqui a duas densidades de estocagem. Pesq. agropec. bras., v.51, n.1, p.9-16.

Barros, M.M.; Ranzani-Paiva, M.J.T.; Pezzato, L.E.; Falcon, D.R. and Guimarães, I.G. 2009. Hematological response andgrowthperformanceofNiletilapiafed diets containingfolicacid. AquacultureResearch, 40:895-903.

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Cyrino, J.E.P.; Bicudo, AJ.A.; Sado, R.Y.; Borghesi, R.; Dairiki, J.K. 2013. A piscicultura e o ambiente – o uso de alimentos ambientalmente corretos em piscicultura. Revista Brasileira de Zootecnia, 39:68-87.

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