ENTREVISTA – “A consolidação do pescado na mesa do consumidor será uma realidade em curto prazo”, diz Thamires Quinhões, da ABRAPES
Data de Publicação: 7 de agosto de 2021 15:48:00 Nesta série de entrevistas e reportagens sobre esta programação, entrevistamos a diretora-executiva da Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (ABRAPES), Thamires Quinhões – um mente ainda muito jovem fazendo a diferença neste setor. É um “ping-pong” dos mais esclarecedores no cenário nacional da pesca e aquicultura.
Thamires Quinhões: Diretora-executiva da ABRAPES |
Por Antônio Oliveira
A indústria do pescado no Brasil, quer seja de cultivo ou da pesca de rios e mares, vem se desenvolvendo muito, com destaque para a aquicultura, que está trilhando os passos de outrora da agricultura, na sua chamada “Revolução Verde” e, assim, fazendo a sua “Revolução Azul”. A demanda da população em todo o mundo por alternativas às carnes bovina, suínas e de aves – e no Brasil não é diferente -, alavanca a produção de peixes, tanto de cultivo, quanto da pesca. Investimentos estão sendo feitos nos dois setores por pequenas, médias, grandes e megas empresas, como foi o caso, recente, da JBS que segue investindo na cadeia do pescado, adquirindo uma das maiores produtoras de salmão na Austrália.
Mas, ainda, há muitos caminhos a serem trilhados para fomentar o consumo de pescados entre consumidores de todo o planeta, principalmente no Brasil, que tem um dos maiores potenciais mundiais para a produção de organismos aquáticos. Porém, com um consumo per capta ainda muito pequeno, em relação a muitos outros países. Mas eles estão sendo trilhados, não obstante aos entraves naturais – vencíveis com a força do piscicultor -, e os oficiais – os governos, ressalvando as raras e honrosas exceções, têm atrapalhado mais que ajudado. O Poder Legislativo dos três entes federados, idem.
Um destes caminhos, para a consolidação do pescado no Brasil, é a Semana do Pescado, que será realizada entre os dias 1º e 15 de setembro próximos.
Nesta série de entrevistas e reportagens sobre esta programação, entrevistamos a diretora-executiva da Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (ABRAPES), Thamires Quinhões – um mente ainda muito jovem fazendo a diferença neste setor. É um “ping-pong” dos mais esclarecedores no cenário nacional da pesca e aquicultura. A íntegra da entrevista, você ler a seguir.
PISCISHOW & AVISULEITE – Há, no Brasil, uma diversidade de associações ligadas à pesca e aquicultura. Quais são a missão, os objetivos da Abrapes e no que ela se diferencia das demais associações?
Thamires Quinhões - A Associação Brasileira de Fomento ao Pescado (ABRAPES) nasceu em 2016 com o objetivo de fomentar e desenvolver o consumo de pescado no Brasil, além de fortalecer os atores do setor.
Nesse sentido, a missão da ABRAPES é fomentar o consumo de pescado; representar os seus associados perante as instituições públicas e privadas - nacionais e internacionais - ; zelar pela qualidade e inocuidade do pescado no país, buscando um produto de qualidade ao consumidor; elevar a oferta de pescado para o mercado doméstico; fomentar a exportação de pescado e; trabalhar em prol da abertura de mercados para importação.
Dentre os objetivos de nossa entidade, destacam-se promover a produção, comercialização, importação e exportação de pescado baseada em princípios éticos; coordenar e defender os interesses dos seus associados nos órgãos públicos e privados, nacionais e internacionais; trabalhar para um pescado de qualidade, sanitariamente seguro e amplamente disponível para a população, contribuindo para a segurança alimentar e para a melhoria da dieta do brasileiro e lutar pela aplicação isonômica das normas atinentes a pescado, observadas as peculiaridades de cada espécie.
A ABRAPES se diferencia por possuir como associados indústrias, distribuidores, importadores, exportadores, tradings e varejistas, sendo uma associação inclusiva que trabalha para o setor de pescado como um todo, não limitando o seu campo de ação.
Consideramos o associativismo como um meio eficaz para atender aos anseios de nossa cadeia, cuja característica marcante é a pluralidade. Possuímos um relacionamento saudável e respeitoso com as demais entidades, sem, contudo, perdermos a nossa identidade e nosso posicionamento.
PISCISHOW & AVISULEITE – A aquicultura continental no Brasil vem numa animadora crescente de alguns anos para cá. Idem as exportações, principalmente de tilápias. Qual é a análise que a ABRAPES faz deste crescimento?
Thamires Quinhões - Esse crescimento é essencial para atender à demanda existente por peixes de qualidade a preços acessíveis, ainda mais nesse cenário de crise em que estamos vivendo com a alta dos preços das carnes bovina e de frango e do aumento do consumo de ovos como fonte de proteína nas refeições diárias.
Quanto às exportações, o Brasil possui um amplo potencial de incremento, mas necessita de incentivos governamentais - similares aos aplicados a outras cadeias -, como por exemplo a isenção do PIS/COFINS da ração do pescado de cultivo, além da redução de custos logísticos, com uma produção em locais próximos a unidades de beneficiamento.
PISCISHOW & AVISULEITE – E no setor da pesca artesanal e industrial marítimas, como ele está reagindo a esta crise econômica e sanitária que afeta o Brasil?
Thamires Quinhões - Assim como todo o agro nacional, a pesca, tanto artesanal quanto industrial, não parou. Como geradores de alimentos, não houve espaço para paradas. Obviamente, ocorreram alguns problemas no início da crise oriunda da Covid-19, como alguns casos pontuais de surtos em embarcações, mas logo todos estabeleceram protocolos sanitários e aprenderam a trabalhar no mar e em terra com os riscos da Covid.
O fechamento dos restaurantes também impactou o setor, que precisou se adaptar e encontrar outros mercados.
Atualmente a pesca industrial e artesanal já se recuperaram dos prejuízos gerados nos primeiros meses da pandemia e continua o seu trabalho de levar alimentos de qualidade à mesa do brasileiro.
PISCISHOW & AVISULEITE – No Brasil, os setores de pesca e aquicultura têm feito, digamos assim, o dever de casa, gerando empregos e renda, além de garantir a segurança alimentar do país, contribuindo com a do mundo. Na visão da ABRAPES, os poderes públicos correspondem com estas responsabilidades, dos dois setores?
Thamires Quinhões - Desde a inclusão da pasta da Pesca e da Aquicultura no escopo do Ministério da Agricultura temos a percepção de que estamos integrados ao agronegócio, sendo incluídos na agenda internacional do ministério para abertura de mercados, no Plano Safra e com um intenso trabalho dentro da Secretaria de Aquicultura e Pesca.
Entretanto, há ainda muita burocracia e entraves dos poderes públicos – principalmente dos órgãos ambientais nacionais, estaduais e municipais e do Mapa – que impactam a produção e o processamento de pescado.
Assim, temos muitos desafios pela frente até conseguirmos o reconhecimento necessário, mas estamos caminhando.
PISCISHOW & AVISULEITE – Há um dizer nos meios da aquicultura que a tilápia é frango d’água, por sua facilidade de cultivo e de preparo na culinária. Mas, na verdade, falta muito para uma maior democratização não só desta espécie, mas dos pescados de uma forma geral. Não opinião da ABRAPES, o que falta para consolidar os peixes da aquicultura, da pesca e dos frutos do mar?
Thamires Quinhões - Necessitamos de segurança jurídica, por meio de normas claras e da isonomia na aplicação das leis.
É preciso também assegurar a disponibilidade de produtos de qualidade com preços competitivos e desenvolver uma comunicação efetiva com o consumidor.
Considerando a história da produção em escala comercial de proteína animal, a do pescado e, em especial a da tilápia, é uma das mais jovens e ao mesmo tempo é a que tem o maior potencial de crescimento no Brasil.
Atualmente, a aquicultura, em todas as suas faces, vem se profissionalizando e realizando investimentos substanciais. Grandes companhias têm se interessado e investido no setor. Dessa forma, a consolidação do pescado na mesa do consumidor será uma realidade em curto prazo.
PISCISHOW & AVISULEITE – A Semana do Pescado é um instrumento para esta popularização de pescados?
Thamires Quinhões - Com certeza. A campanha une toda a cadeia em prol do incentivo ao consumo de pescado, seja ele da pesca ou da aquicultura, nacional ou importado. O mercado brasileiro é enorme e possui espaço para todos os produtos que o setor dispõe.
PISCISHOW & AVISULEITE – Qual é a contribuição da ABRAPES nesta iniciativa?
Thamires Quinhões - Além de patrocinar a campanha desde a sua criação, a ABRAPES trabalha ativamente para o sucesso da Semana do Pescado, divulgando e incentivando a participação de fornecedores e compradores, engajando todos os Associados em prol deste evento.
Neste ano, faço parte do Comitê Organizador da Semana, sendo responsável pela interlocução com o setor de alimentação fora do lar – representado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL), além de auxiliar na comunicação da 18ª edição.
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